O que é o ciclo de vida de um produto?

O número e o conteúdo das etapas do ciclo de vida de um produto variam dependendo do produto analisado, mas também do nível de precisão desejado: ao ampliar os limites do exercício, o ciclo de vida pode ser dividido em dezenas ou até centenas de etapas e sub-etapas.  

No entanto, existem sete grandes fases genéricas do ciclo de vida de um produto:  
1. Concepção, fase durante a qual o produto futuro é imaginado e desenvolvido. Assim, ele existe na forma de uma ideia, desenvolvida e modelada por nossos cérebros.  

2. Extração da matéria-prima, durante a qual os recursos naturais necessários para a fabricação do futuro produto são retirados do solo ou subsolo: petróleo para formar plástico, lítio para baterias, algodão para tecidos, ferro para peças de metal, madeira para tábuas, etc.  

3. Fabricação, durante a qual as várias partes são montadas, e o produto é finalizado e embalado.  

4. Transporte para o ponto de venda, durante o qual o produto pode viajar centenas ou até milhares de quilômetros (de trem, caminhão, avião, navio, etc.).  

5. Armazenamento e comercialização, que culmina com a venda e compra do produto.  

6. Uso, que pode durar 3 minutos (um café) ou uma vida inteira (um móvel). Essa fase também pode ser estendida de um consumidor para outro, por meio de troca, doação, venda e reuso.  

7. Fim de vida, que significa o desaparecimento do produto em sua forma inicial. Para um objeto, sua vida terminará com a reciclagem ou, se isso for considerado impossível, ele será enviado para aterros, enterrado ou incinerado.  

A descrição do ciclo de vida está sujeita a variações. Consequentemente, às vezes é resumida em três fases principais: o nascimento, a vida e a morte do produto. Cada uma dessas etapas possui características que têm uma influência significativa no impacto ambiental e social do produto.  

O nascimento do (novo) produto  
Essa primeira fase engloba todo o processo de concepção, extração de matéria-prima, marketing e distribuição. A gestão otimizada dessa fase pode reduzir consideravelmente os impactos ambientais iniciais de um produto. Ao incorporar práticas de eco-concepção, as empresas podem limitar o impacto ambiental desde o início do ciclo de vida do produto.  

A vida do produto  
Essa etapa, que corresponde ao período de uso pelo consumidor, é crucial para avaliar a sustentabilidade e eficiência de um produto. Esforços para prolongar a vida útil de um produto, por meio de iniciativas como melhoria da reparabilidade e redução do consumo de energia, são fundamentais para minimizar os impactos ambientais durante essa fase.  

A morte do produto  
O fim de vida do produto inclui processos de reciclagem e eliminação. Uma estratégia eficaz de gestão do fim de vida, promovendo reciclagem e reuso, pode reduzir significativamente o desperdício e a toxicidade ambiental.  

Ao adotar uma abordagem mais detalhada, também podemos levar em conta o ciclo de vida dos equipamentos utilizados na fabricação do produto. Essa análise mais aprofundada possibilitaria identificar e minimizar os impactos secundários relacionados aos processos de produção, oferecendo assim uma visão completa das implicações ecológicas e sociais do produto.  

Uma vez que o ciclo de vida de um produto foi precisamente determinado, a tarefa mais importante permanece: analisá-lo. Isso é conhecido como Avaliação do Ciclo de Vida (ou LCA, na sigla em inglês). Essa abordagem, que nasceu e foi formalizada na década de 1990, em meio ao agravamento dos desafios ecológicos e climáticos, tornou-se o principal método para avaliar os impactos ambientais associados à produção de bens e serviços.  

De acordo com a ADEME, uma LCA "categoriza e quantifica, ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, os fluxos físicos de materiais e energia associados às atividades humanas."  
Em outras palavras, o objetivo é rastrear toda a gama de impactos ambientais – desde o nascimento até a morte do produto. Isso também é conhecido como uma análise "do berço ao túmulo". Existem fluxos de entrada: consumo de água, petróleo, gás, madeira, minérios, eletricidade, etc. E fluxos de saída: emissões de gases de efeito estufa (GEE), despejo de líquidos, materiais sintéticos, substâncias nocivas, etc.  

A LCA é considerada uma ferramenta de apoio à tomada de decisão para os principais atores nos setores de produção. Seus resultados devem possibilitar medidas para mitigar ou eliminar os impactos negativos associados às suas atividades. Uma vez identificadas as principais pressões ambientais, há inúmeras opções: descarbonizar o plano de transporte de mercadorias; repensar o design do produto para melhorar sua reparabilidade ou reciclabilidade (a famosa "eco-concepção"); aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética da fábrica ou do armazém; mudar materiais, entre outros.  

Vale ressaltar que a avaliação do ciclo de vida, inicialmente projetada para fins puramente ambientais, tende a se aplicar cada vez mais aos outros grandes pilares do desenvolvimento sustentável: questões sociais e econômicas. O objetivo é avaliar os impactos do produto, ao longo de sua vida, por meio de critérios qualitativos, como as condições de trabalho ou a saúde e segurança dos trabalhadores e usuários; a qualidade dos empregos gerados e sua sustentabilidade; o uso real do produto e sua relação custo-benefício; ou a equidade na remuneração associada à sua produção, transporte, etc.  

A avaliação do ciclo de vida é uma abordagem codificada e padronizada, regulamentada pela Organização Internacional de Normalização (ISO). É realizada em quatro fases:

1. Objetivo e escopo.  
O objetivo é escolher o que os especialistas chamam de "unidade funcional" (UF), uma espécie de referência que permite a comparação entre produtos e seus impactos. Isso é baseado, principalmente, em três critérios: a vida útil do produto, a quantidade consumida e a frequência de consumo.  
Exemplo de unidade funcional: o consumo mensal de água engarrafada por 1.000 pessoas; ou o uso de um par de tênis uma vez por semana durante dois anos.  

2. Análise do inventário.
Consiste em listar e quantificar todos os fluxos de entrada e saída de materiais e energia ao longo do ciclo de vida de um produto. Essa etapa requer bancos de dados sólidos e abrangentes.  

3. Avaliação de impacto.
Nesta fase, são medidos os efeitos ambientais e sociais dos fluxos inventariados na etapa anterior. É o cerne da análise, que identifica os impactos mais relevantes que devem ser tratados prioritariamente. Para ter uma ideia dos impactos avaliados pela ACV, podemos utilizar a lista preparada pela Comissão Europeia.  
Essa lista inclui 14 categorias principais de impactos:  
- Mudança climática,  
- Depleção do ozônio,  
- Ecotoxicidade em água doce,  
- Toxicidade humana, câncer,  
- Toxicidade humana, não câncer,  
- Efeitos respiratórios de compostos inorgânicos gasosos e particulados,  
- Radiação ionizante,  
- Formação de foto-oxidantes,  
- Acidificação,  
- Eutrofização do solo,  
- Eutrofização da água,  
- Uso da água,  
- Uso de recursos minerais e fósseis,  
- Uso do solo.  

4. Interpretação.
Na quarta e última fase, a qualidade dos resultados é avaliada e são tiradas conclusões a partir dos dados coletados nas etapas anteriores. O objetivo é desenvolver soluções para reduzir impactos e otimizar o ciclo de vida do produto sob uma perspectiva econômica.  

Ferramentas e bancos de dados  
A ACV segue um procedimento claro e padronizado. Por isso, as empresas utilizam bases de dados e ferramentas de software sofisticadas, como OpenLCA, GaBi e SimaPro. Algumas instituições públicas também fornecem ferramentas de acesso aberto, como a ADEME (Agência de Controle de Meio Ambiente e Energia) ou a Comissão Europeia.

A Decathlon trabalha na avaliação ambiental de seus produtos desde 2009. Trata-se de uma abordagem que permite analisar o ciclo de vida completo, desde a extração de matérias-primas até o fim de sua vida útil. Para garantir um cálculo ótimo, é fundamental ter uma ferramenta eficaz, regras de cálculo confiáveis e bancos de dados representativos. Uma vez calculados, os indicadores servem para identificar as fases do ciclo de vida e os componentes mais impactantes. Com esses dados, os designers de produtos e compradores podem escolher os melhores materiais, processos e fornecedores.

Por essa razão, é essencial realizar uma avaliação ambiental de todos os produtos da DECATHLON e de outras marcas vendidas pelo grupo: atualmente, isso é feito para mais de 50% dos modelos da empresa, representando 97% de seu faturamento.

Desde 2021, a DECATHLON utiliza uma solução digital especializada e interna para suas avaliações ambientais. Ela usa um banco de dados de referência baseado no método Product Environmental Footprint (PEF), desenvolvido sob a supervisão da Comissão Europeia. Esta ferramenta fornece uma pontuação confiável e comparável, padronizando e ponderando dezesseis categorias de impactos (como mudanças climáticas, uso de recursos hídricos, emissões de partículas finas, etc.).

Assim, os cálculos dos impactos dos produtos da DECATHLON estão agora alinhados com o método de avaliação de ciclo de vida mais avançado da Europa.

E a análise é seguida pela exibição ambiental.