Todas as roupas podem ser recicladas?
A produção global de fibras atingiu um recorde de 124 milhões de toneladas em 2023 — mais que o dobro do que era no ano 2000. Desse total, 57% são poliéster, mas apenas 7,7% vêm de fibras recicladas (principalmente de garrafas plásticas).
Mas por que cada peça de roupa precisa de fibras novas? Não seria possível recuperar fibras ou tecidos dos nossos guarda-roupas indesejados?
Frequentemente, não. Roupas com zíperes, elásticos, botões e tecidos mistos são difíceis de reciclar.
Se você olhar a etiqueta de uma peça, provavelmente verá uma mistura de fibras. Tecidos de algodão geralmente têm um pouco de elastano; a lã costuma ser misturada ao poliéster para ser lavável.
Mesmo depois de remover zíperes, botões e etiquetas manualmente, é necessário separar as fibras para que possam ser reutilizadas.
A mistura acontece não apenas no nível das fibras (como lã com nylon), mas também nos fios (fios com brilho em um tecido ou costuras decorativas em jeans) e até nos tecidos (peças compostas por diferentes materiais, como casacos patchwork ou ombreiras reforçadas).
A recuperação mecânica das fibras é um processo muito intensivo. Em Prato, na Itália, existe uma verdadeira comunidade voltada à reciclagem de lã, que processa cerca de 15% de toda a roupa reciclada do mundo.
Eles reciclam lã desde o século XIX. Os especialistas em triagem, chamados de cenciaiolis (artesãos), são tão habilidosos que conseguem identificar a composição de uma peça apenas pelo toque. Eles separam as peças por cor, permitindo que o tecido reciclado final tenha uma variedade de tons — sem precisar tingir novamente. O tecido reciclado vira uma espécie de “penugem”, que depois é fiada e transformada em tecido sob o nome MWool.
No entanto, esse processo mecânico (e manual) é caro e demorado. É aí que entra a reciclagem química.
Por exemplo, é possível dissolver ou derreter uma fibra enquanto se extrai a outra. O PET (poliuretano) pode ser extraído com calor, e a celulose (usada na produção de rayon, Cupro ou Lyocell) pode ser extraída por dissolução.
O grande objetivo é construir uma economia têxtil circular, onde as roupas sejam recicladas para virar novas roupas — em vez de serem descartadas, como acontece na economia linear.